segunda-feira, 25 de maio de 2009

Praia e sertão: cabeças cortadas e cabeças coroadas

No meu périplo sertanejo, deixo Serra Talhada e Pernambuco pra trás, e rumo para Alagoas.
É uma viagem de trabalho. Ao lado do cinegrafista Ademir Salandim e do técnico Francisco Miranda, gravo uma série de reportagens que será exibida no Jornal da Record (nem sei se alguém tem curiosidade em saber, mas não posso dizer o tema da matéria, porque a concorrência está de olho em cada passo nosso; é o que dizem, pelo menos).
A descoberta do dia é uma cidade que nem estava em nosso roteiro original: Piranhas (AL), na beira do rio São Francisco. Que cidadezinha encantadora: casario colonial (ou seria melhor dizer "casario imperial", porque muitas construções datam do século XIX), com fachadas coloridas, e ruas bem estreitas, ocupando um pequeno vale de frente para o rio.
Passamos uma tarde ali, colhendo imagens. A cidade é conhecida também porque lá ficaram expostas as cabeças de Lampião e outos cangaceiros mortos em 1938. Cena tétrica. As cabeças, claro, não estão mais na escadaria , em frente à Prefeitura de Piranhas. Mas a foto ficou - para lembrar nossa história de violência e crueldade.
A poucos metros do centro histórico, uma cena mais agradável: um campo de futebol, com dimensões oficiais e grama em perfeito estado - bem na margem do rio. Não há ninguém jogando (e seria difícil mesmo porque o sol é de rachar a cuca). Mas fico a imaginar o luxo: bater uma bola ali, na margem do rio. Que meia-esquerda ou centro-avante não se inspiraria com essa paisagem tão linda!
Na época de Lampião - claro - não havia esse campo por aqui! Que pensamento bobo... Acho que é uma forma de parar de pensar naquelas terríveis cabeças cortadas.
É um devaneio rápido, porque precisamos cair na estrada de novo. Nem sobra tempo pra conhecer o Xingó, um "cânion" no São Francisco. Dizem que é maravilhoso. Mas fica para a próxima.
Cruzamos a ponte sobre o São Francisco e já estamos em outro estado: Sergipe.
Tenho uma enorme simpatia pela capital sergipana, Aracaju. Ao contrário do Recife e de Fortaleza (que infestaram suas orlas com prédios modernosos, altíssimos e de gosto duvidoso), Aracaju manteve-se mais discreta. A "Orla do Atalaia" tem prédios baixos, e os bares nem são muito barulhentos. Lugar agradável para uma caminhada no começo da noite, depois de um dia inteiro de gravações.
Mas não consigo fazer exercício sem parar pra olhar placas, estátuas, nomes de ruas ou praças.... Encontro, ali na orla de Aracaju, um conjunto de esculturas com nome pomposo: "Monumento aos Formadores da Nacionalidade".
Lado a lado, estão as estátuas, em tamanho natural, de Tiradentes, José Bonifácio, Dom Pedro II, Duque de Caxias, Barão do Rio Branco, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek... Todos engravatados, engalonados.
A exceção é Tiradentes: ele fo retratado com a túnica e (de novo, gosto duvidoso) com a corda pendurada no pescoço. Curiosamente, Tiradentes (único, entre os ali representados, que não era da grande elite brasileira) encontra-se apartado do grupo principal, e quase de lado para os passantes.
Fico a pensar se o autor do monumento fez de propósito. Teria afastado Tiradentes do grupo principal, e vestido o Alferes com a roupa do cadafalso, como a marcar a diferença de classe?
Noto que pouca gente ali na calçada presta atenção ao monumento. Com exceção de um jovem que pede pra namorada fotografá-lo ao lado de Getúlio. O rapaz acha engraçado que Vargas fosse tão baixinho: "olha só, ele bate no meu ombro".
A namorada bate o retrato. Eu sigo em frente.
Encontro, a menos de 500 metros, outro monumento com estátuas em tamanho natural: dessa vez, estão ali representados os "ilustres filhos da terra". Ou seja, sergipanos que ganharam fama. São juristas, professores, intelectuais. Todos, de terno e gravata: Silvio Romero, Tobias Barreto, Jackson Figueiredo, entre outros.
Fico a pensar: não há heróis do povo? Onde estão?
Do meu lado, um menino chora, pedindo sorvete pro pai. Parecem turistas. Passam batido por Tobias Barreto e os outros.
Lembro que, um dia antes, na estrada a caminho de Aracaju, eu passara por Poço Redondo - pequena cidade no sertão sergipano. Ali, não há engravatdos nos monumentos. A pracinha na avenida principal tem um monumento simples, com chapéu de cangaceiro e o nome: "Virgulino Ferreira da Silva". Estátua de Lampião também não há, mas ali aparece anotada uma estrofe atribuída ao rei do cangaço:
"Me chamo Virgulino
Ferreira Lampião
Manso como um cordeiro
Bravo como um leão
Trago o mundo em rebuliço
Tenho a cabeça de trovão"
No Nordeste profundo, o povo prefere a cabeça cortada de Lampião - "cabeça de trovão - às cabeças coroadas de intelectuais que se transformam em estátuas de beira da praia.

Conteúdo retirado do site:www.escrevinhando.com.br

Conceição Lemes: Cuidado com os erros de um ex-ministro da Saúde

por Conceição Lemes
No dia 27 de abril, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que vive dando pitacos em questões médicas e de saúde como se fosse doutor, falou à imprensa em Ribeirão Preto, interior do estado, sobre a gripe suína (para ver o vídeo, clique aqui): "Gripe suína, ela é transmitida dos porquinhos para as pessoas só quando eles espirram ou quando a pessoa chega lá perto do nariz do porco. Portanto, a providência elementar é não ficar perto de porquinho algum, mesmo não tendo gripe suína no Brasil pelo que se constata até agora. Ela pode ser feita a transmissão, isto sim, de pessoa a pessoa. Agora nós não temos nenhum caso ainda registrado..."Exceto no finalzinho, Serra errou feio. Para qualquer governador, revela despreparo. Para quem também já foi Ministro da Saúde (1998-2002), deplorável.No dia 12 de maio, durante almoço com suinocultores, Serra disse que não disse o que disse. (Leia aqui) A fala do governador, editada no vídeo, reflete exatamente o que Serra disse. Prevaleceu o velho ditado: filho feio não tem pai.Para que não houvesse qualquer dúvida -- afinal, saúde é uma área em que não se pode errar sob pena de colocar a vida das pessoas em risco – esta repórter resolveu consultar esta semana o Centers for Disease Control and Prevention, o poderoso CDC dos Estados Unidos, sobre o assunto. O CDC é referência mundial para controle e prevenção de doenças. Foi a instituição que identificou o vírus causador da gripe suína, o A (H1N1)O CDC tem um serviço de informação que funciona 24 horas por dia, durante os sete dias da semana. Esta repórter enviou ao CDC-Info um e-mail como simples cidadã. Em inglês, sem dizer que era brasileira nem identificar o governador Serra como autor da mensagem equivocada, disse que a recebeu e estava muito preocupada. Queria saber se era verdade ou mentira toda a parte suína. Perguntou ainda se poderia pegar a gripe A (H1N1) do porquinho que a mãe tem na fazenda.O CDC-Info retornou horas mais:Como acontece com todos os germes que facilmente passam de pessoa para pessoa, a prática de bons hábitos de higiene é a forma mais eficaz para evitar a propagação do novo vírus H1N1. Lavar frequentemente as suas mãos ajudará a proteger você dos germes. Lave com água e sabonete ou higienize as mãos com preparação alcoólica.O CDC recomenda que quando você lavar as suas mãos – com água quente e sabonete --, faça-o por 15 a 20 segundos. Quando sabonete e água não forem disponíveis, lenços de papel embebidos em álcool ou gel higienizador podem ser usados. Jogue-os fora após cada utilização. Caso utilize gel, esfregue as mãos até elas secarem. O álcool mata os germes.O álcool a que se refere o CDC e mata os germes é o álcool 70%. Há também o álcool em gel a 70%. É aquele gel que a gente esfrega nas mãos antes de entrar na UTI ou mesmo no quarto de alguns bons hospitais.E “a providência elementar de ficar longe do porquinho”, preconizada pelo Serra para se proteger da gripe suína? Nenhuma palavra do CDC.E sobre risco de a repórter pegar gripe suína do porquinho que a mãe tem na fazenda? Também nenhuma palavra do CDC .Para bom entendedor, o silêncio basta. Em vez de dar trela às asneiras escritas no e-mail que enviei, o CDC-Info preferiu ensinar o que realmente funciona para a prevenção da gripe suína.OS ERROS DE SERRA SOBRE A GRIPE SUÍNA“E quais foram exatamente os erros de Serra”, alguém, nesta altura, talvez esteja perguntando. Vamos a eles:A atual gripe suína não é transmitida dos porquinhos para as pessoas. Questionada sobre o tema, OMS foi taxativa: até o momento não há confirmação de transmissão do vírus de suínos para seres humanos.Aliás, o que se detectou é o contrário. Gente transmitindo gripe para porquinhos. Isso aconteceu há poucos dias, no Canadá , quando um indivíduo que trabalha lá voltou do México com gripe e transmitiu o vírus A/H1N1 aos porcos. Talvez a pessoa tenha espirrado na cara dos porquinhos.Há mais de 30 anos o vírus da gripe do porco circulou no ambiente humano. Na ocasião, causou um surto em um destacamento militar em Forte Dix, New Jersey, Estados Unidos. Foi um surto localizado, infectando cerca de 230 pessoas, 13 de forma grave, com um óbito. Não houve casos documentados fora da instituição militar.O A/H1N1 é um vírus de porco. Entretanto, no seu genoma, há pedaços de vírus de porco, aves e ser humano. Em algum momento da história - e não foi agora -- o vírus do porco passou para o homem.Não está tendo surto de gripe em porcos no México nem nos Estados Unidos. Nesses países, as pessoas que tiveram a gripe A (H1N1) não têm criações de porcos.Tanto que esses países não recomendaram às pessoas que ficassem longe dos porquinhos, para evitar a gripe A (H1N1). A OMS também não incluiu a diretriz de Serra -- ficar longe dos porquinhos -- como medida preventiva contra o atual surto de gripe suína.“Afinal, por que o Serra se meteu a falar do que não entende?”, talvez seja a outra pergunta que alguns façam. Primeiro, porque, desde que passou pelo Ministério da Saúde, Serra palpita sobre questões de medicina e saúde, como se fosse cientista ou doutor.Segundo, Serra supôs que iria faturar, aumentando o seu currículo na área de saúde com vistas a 2010. Afinal, saúde será uma das bandeiras principais da sua candidatura à presidência da República, em 2010. Usou-a nas eleições de 2002, 2004 e 2006.Terceiro, entre muros, o governador de São Paulo, José Serra, mestre e doutor em Economia, ex-ministro da Saúde, anda incomodado com o brilho do atual ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em lidar com a gripe suína. Temporão é do ramo: médico, fez residência em doenças tropicais, mestrado em saúde pública e doutorado em medicina social. O desempenho do Ministério da Saúde e do seu corpo técnico tem recebido aplausos, aqui e no exterior.No dia 24 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta global sobre a ocorrência de casos de gripe suína em humanos no México e nos Estados Unidos. Imediatamente, no Brasil, o Ministério da Saúde decretou emergência em saúde pública para enfrentar a nova ameaça, rebatizada de gripe A (H1N1).“Realmente, o Brasil está preparado para enfrentar a gripe A (H1N1)”, observa o médico epidemiologista Jarbas Barbosa da Silva Jr., gerente da área de Vigilância em Saúde e Manejo de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em Washington, EUA. “Tanto a vigilância epidemiológica como a rede de saúde estão em condições de detectar precocemente, reduzir a transmissão e tratar os casos que porventura aconteçam.” “A atuação do Ministério da Saúde tem sido bastante eficiente. Para começar, abrindo completamente as informações ao público e à mídia”, avalia o médico e especialista em política de saúde pública Jairnilson Paim, professor titular do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia – UFBA. “A articulação da Secretaria de Vigilância em Saúde [SVS] com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], outros ministérios e estados, além de democrática, mostra competência. Estou muito orgulhoso com o nível que o Sistema Único de Saúde [SUS] alcançou e a postura do ministro Temporão de transparência, de não enganar a população. Eu nunca tinha visto isso antes aqui".Por isso, recomendamos: lave freqüentemente as mãos com água e sabonete. É eficaz, simples e custa quase nada. Protege você não só da gripe suína mas também das gripes sazonais, resfriados e diarréias durante os 365 dias do ano. E cuidado com as informações do “doutor” Serra sobre medicina: elas podem fazer mal à saúde.

Texto copiado do site:www.viomundo.com.br

A ofensiva dos ruralistas

Ruralistas iniciam sua maior ofensiva contra leis ambientais
Seja por intermédio de suas bancadas na Câmara e no Senado ou através de suas entidades de classe, os setores ligados ao agronegócio e às obras de infra-estrutura estão mobilizados de Norte a Sul para reverter pontos da legislação ambiental por eles considerados como um entrave ao desenvolvimento produtivo do país.Maurício Thuswohl, na Carta Maior
Data: 12/05/2009 RIO DE JANEIRO – Ao que tudo indica, os últimos 18 meses do governo Lula serão marcados por uma forte ofensiva ruralista contra os avanços conquistados pelo Brasil em sua política ambiental. Seja por intermédio de suas bancadas na Câmara e no Senado ou através de suas entidades de classe, os setores ligados ao agronegócio e às obras de infra-estrutura estão mobilizados de Norte a Sul para reverter pontos da legislação ambiental por eles considerados como um entrave ao desenvolvimento produtivo do país. Essa contra-ofensiva passa pela aprovação no Congresso de duas Medidas Provisórias que alteram o atual Código Florestal e também pela tentativa de retirar da União e transferir aos estados a prerrogativa de definir as políticas ambientais.Já aprovada na Câmara, encontra-se agora em discussão no Senado a MP 452 que, apesar de originalmente tratar da regulamentação do Fundo Soberano, leva de “carona” uma emenda feita pelo relator, deputado José Guimarães (PT-CE), que acaba com a obrigatoriedade de concessão de licença ambiental para as obras a serem realizadas em rodovias federais já existentes. Além disso, a MP 452 também estabelece o prazo máximo de 60 dias para que o Ibama conceda as licenças de instalação para obras em rodovias, o que, na prática, fará com que estas obras possam ser iniciadas sem a obtenção das licenças.Existem atualmente em processo de análise no Ibama 183 pedidos de licenciamento em rodovias, dos quais apenas 82 já receberam licença prévia do órgão ambiental. As obras do PAC são responsáveis por 140 destes pedidos, fato que faz com que os parlamentares ligados ao agronegócio estejam otimistas em receber o decisivo apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Até o momento, nem o presidente nem a ministra externaram suas posições.Outra Medida Provisória que aguarda votação na Câmara, onde deverá ser aprovada, é a MP 458, que trata da regularização fundiária de terras pertencentes à União localizadas nos nove Estados da Amazônia Legal. Quando foi enviada ao Congresso pela Presidência da República, a MP 458 contava com o apoio do movimento socioambientalista, pois tinha forte cunho social ao determinar a regularização de propriedades de até 1,5 mil hectares. No entanto, as modificações introduzidas pelo relator, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), desfiguraram a MP.Entre as alterações sugeridas por Bentes - e rejeitadas pelos ambientalistas - estão a inclusão de áreas devolutas localizadas em faixa de fronteira, além de outras áreas sob domínio da União, no processo de regularização fundiária, e também a retirada da exigência de que o ocupante não seja proprietário de imóvel rural em qualquer parte do território nacional. Além disso, o texto que deverá ser aprovado pelos deputados exclui o parágrafo que impedia a regularização de área rural ocupada por pessoa jurídica: “Essas novas regras legalizarão a grilagem, aumentarão a concentração fundiária e a violência no campo e incentivarão o desmatamento”, resume Raul do Valle, que é coordenador do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA).Senado decide
Assim como no caso da MP 452, caberá ao Senado dar a exata medida das chances políticas que tem a MP 458, na forma como está, de se tornar realidade. A disputa em torno das duas Medidas Provisórias será protagonizada por duas parlamentares de peso. De um lado, Kátia Abreu (DEM-TO), que é presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) e tem se destacado como a maior liderança política dos ruralistas nesses seis anos e meio de governo Lula. Do outro, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PT-AC), que tem enorme prestígio internacional e é a principal porta-voz política do movimento socioambientalista brasileiro.Em discurso realizado na tribuna do Senado na semana passada, Marina afirmou que “segmentos do agronegócio e da infraestrutura se revezam em um jogral de satanização das conquistas ambientais que a sociedade brasileira conseguiu inscrever no arcabouço legal de nosso país”. Segundo a ex-ministra, estes setores “agora estão imbuídos em convencer a sociedade brasileira de que a legislação que protege o que restou da floresta, que protege a nossa biodiversidade e as margens dos rios é a maior inimiga para o crescimento e expansão da agricultura no país”.Novo Código
Kátia Abreu, por sua vez, alia o comando da pressão ruralista no Senado à articulação nacional das principais entidades representativas dos grandes produtores. Também na semana passada, a senadora levou ao Congresso uma proposta elaborada em conjunto pela CNA e pela Sociedade Rural Brasileira (SBR) que sugere uma ampla reformulação no Código Florestal.Entre as mudanças propostas pelos ruralistas estão o fim da obrigatoriedade de recompor as Áreas de Proteção Permanente (APPs) no mesmo bioma onde houve desmatamento, a permissão para compor 50% da reserva legal com espécies exóticas ao bioma e a manutenção das áreas “consolidadas pela agricultura” mesmo em biomas considerados ameaçados.O ponto fundamental de um novo “Código Ambiental Brasileiro”, de acordo com o desejo dos ruralistas, seria a transferência para os Estados da atribuição de definir as políticas ambientais, o que hoje é prerrogativa exclusiva da União: “Se o governo federal descentralizou a saúde e a educação, por que não o meio ambiente também? Cada Estado tem suas peculiaridades ambientais e agrícolas e pode deliberar sobre elas”, diz Kátia Abreu.Governadores ruralistas
A pressão no Congresso - onde 33 propostas de alteração do Código Florestal já foram protocoladas por parlamentares ruralistas - acontece paralelamente à ação dos governadores mais ligados à cartilha do agronegócio. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique Silveira (PMDB), deu a largada ao usar sua maioria na Assembléia Legislativa para aprovar um código florestal estadual que, entre outras afrontas à legislação federal, reduziu para cinco metros a faixa de proteção das matas ciliares (localizadas às margens dos rios e lagos).As alterações na legislação ambiental apoiadas por Luiz Henrique em seu estado são objeto de três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adins) movidas, respectivamente, pelo PV, pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público de Santa Catarina. Ainda assim, outros governadores, como Aécio Neves (PSDB) de Minas Gerais, falam em seguir o exemplo catarinense e já mobilizam suas bases de deputados para criar um código ambiental estadual.A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), foi a mais recente adesão ao movimento de pressão pela criação de legislações ambientais estaduais que contradigam as leis federais. Mesmo acossada por uma ameaça de impeachment, Yeda encontrou tempo para exortar seus deputados a criarem um código ambiental estadual: “Cada estado deve ter uma legislação própria para decidir os rumos de suas riquezas ambientais. O Código Florestal Brasileiro tem mais de 40 anos e precisa ser modernizado e adequado às realidades regionais”, disse. URL: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15986


Texto retirado do site:www.viomundo.com.br

A dura batalha dos indígenas gays

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/05/22/materia.2009-05-22.5024914559/viewONGs denunciam exploração sexual de jovens indígenas gays e travestis em RoraimaKarina CardosoRepórter da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - “Acho que meu pai tinha preconceito de mim, porque ele me chamava de gay. Ele dizia que ia me matar. Quem me ajudou a fugir foi minha mãe. Eu tinha treze anos de idade."A travesti Paulina Janine, hoje com 24 anos, relembra os momentos tristes da adolescência, quando ainda vivia com a família em uma aldeia indígena em Normandia. Paulina é macuxi e vive atualmente em Boa Vista onde ganha a vida como garota de programa.Esta é a realidade de muitos jovens indígenas que migram para as capitais na tentativa de fugir do preconceito nas aldeias. E é nesta busca que grande parte desses jovens é vítima da rede de exploração sexual.Em geral, os jovens explorados sexualmente em Boa Vista são homossexuais ou travestis. Alguns deles já foram contaminados pelo vírus HIV. E alguns faleceram por terem desenvolvido a Aids.Para conscientizar esses jovens sobre doenças sexualmente transmissíveis e sobre a importância da camisinha e do tratamento médico surgiu, em 2003, o Grupo Diversidade.O presidente do grupo, Sebastião Diniz Neto, afirma que a instituição atua diretamente com 50 jovens de 16 a 25 anos por meio de encontros, palestras e ações, como distribuição de camisinhas. Todos os integrantes são homossexuais ou travestis. Alguns, portadores do vírus HIV.Diniz afirma que há preconceito nas aldeias e até mesmo entre as lideranças indígenas.“O próprio tuxaua já é machista. Ele entende que aquilo não pode acontecer. Entende que o índio do sexo masculino tem que gerar crianças. Principalmente os travestis são postos na rua. Então eles ficam isolando, isolando, até a pessoa se isolar de vez e sair da comunidade."O presidente do Grupo Diversidade acrescenta, ainda, que a rede de exploração sexual se coloca como única opção de sobrevivência para esses jovens.“A gente encontra uma certa dificuldade por falta de opção de emprego. Quando o mercado de trabalho abrir as portas elas vão sair da prostituição. Vontade elas têm. Fizemos uma pesquisa sobre o que fariam a não ser prostituição, deu enfermagem, cabeleireira."A travesti indígena Simone da Silva Santos, de 28 anos, também deixou Normandia ainda adolescente e foi tentar a vida em Boa Vista. Foi na rede de exploração sexual que encontrou meios para ajudar financeiramente a mãe.“As vezes mamãe liga pra mim. As vezes ela chora por mim também. Eu sofri mas eu ajudei ela também. Ajudei mamãe a comprar uma casa para ela.”Por meio das ações do Grupo Diversidade, Simone tenta mostrar para as amigas a importância do sexo protegido.“As vezes eles me dão um pacote de camisinha para eu entregar para as pessoas que estão precisando. Eu ajudo elas também. Como eles estão me ajudando eu tenho que, pelo menos, ajudar as pessoas também.”Na tentativa de afastar a rede de exploração sexual, o Grupo Diversidade oferece curso de cabeleireiro para que os jovens aprendam uma profissão. Foi o caso do indígena Eduardo Macuxi que, mesmo com o preconceito, não ingressou na prostituição e hoje trabalha em um salão de Boa Vista.“A minha primeira experiência foi através de lá [do grupo]. Porque eu conhecia vários cabeleireiros e eles falavam pra entrar na área. Eu disse que um dia ia tomar uma decisão e entrar.”A presidente da Organização Indígena Positiva do Estado de Roraima, Nívea Pinho, explica que, além do preconceito existente nas aldeias, há também a dificuldade dos próprios indígenas de pedir e conseguir ajuda quando um dos integrantes da família, por exemplo, está infectado com o vírus do HIV ou quando é vítima de abuso sexual.“Geralmente as famílias preferem sair da comunidade. Não resolver o problema e vir morar em Boa Vista. Passar por dificuldades e uma série de coisas."O administrador substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Roraima, Petrônio Barbosa, disse desconhecer o problema vivido por indígenas homossexuais e travestis nas comunidades.“A Funai não tem conhecimento de casos como este. Até agora não chegou nenhum caso."Para o conselheiro do Conselho Tutelar de Boa Vista, Rony da Silva, a rede de exploração sexual se beneficia da falta de estrutura familiar. Por isso, ele explica que o órgão municipal, responsável pela defesa dos direitos de crianças e adolescentes, atua para desenvolver a estrutura da família.“Nós vemos hoje uma grande deficiência dentro da estrutura familiar. E nós procuramos trabalhar na estrutura da família, fazer encaminhamentos para rede de acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Então temos toda uma rede onde nós podemos trabalhar com a estrutura da criança e da família."A Organização de Mulheres Indígenas de Roraima também atua na conscientização dentro das aldeias indígenas. Para a coordenadora do órgão, Kátia Januário de Souza, a educação é a maior rival da exploração sexual.“Não queremos ver nossos filhos na prostituição. A gente quer ver nossos filhos estudando, se formando. Também somos capazes de ser doutor, advogado e tudo mais."
Texto copiado do site: www.viomundo.com.br

Rapinagem Internacional.

A privatização dos recursos genéticos
Atualizado em 25 de maio de 2009 às 18:04 Publicado em 25 de maio de 2009 às 18:03
Segunda-Feira, 25 de maio de 2009Privatização dos recursos genéticos, artigo de Nagib Nassar
do Jornal da Ciência A privatização dos recursos genéticos pelas multinacionais foi o principal receio dos pioneiros do movimento de conservação da biodiversidade na década 1970Nagib Nassar (http://www.geneconserve.pro.br) é professor titular de Genética da UnB. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:O eminente cientista da genética e melhoramento Warwick kerr me escreveu essa semana: “Concordo plenamente com o que você disse quanto aos transgênicos como mutações artificiais e prejudicais, pois elas não têm como perpetuar a espécie, nem produzem organismo apto”.Acrescentou ainda: “Descobri recentemente uma mutação natural da cor verde escura em Alface que aumentou a vitamina A nessa cultura em até 20 vezes”.E mais: “Por ser uma mutação natural com menor efeito morfológico e fisiológico sobre a planta, o organismo sobreviveu, perpetuou-se e produziu sementes abundantes, permitindo propagá-la sexualmente. Consegui produzir uma das melhores variedades conhecida até agora”.“A minha preocupação agora” – continua Warwick – “é com o risco da entrada em cena de uma corporação comercial multinacional ou nacional e que venha tomar conta dessa descoberta, privatizando-a e impedindo o povo de se beneficiar livremente da descoberta.”Warwick tem plena razão.A privatização dos recursos genéticos pelas multinacionais foi o principal receio dos pioneiros do movimento de conservação da biodiversidade na década 1970, que levou à demissão, da FAO, das Nações Unidas, em 1975, de uma das líderes do movimento. (veja Erna Bennett: A Lifetime of Conservation, no site http://www.geneconserve.pro.br/biography)A corrida das corporações multinacionais para maior enriquecimento de seus acionistas faz com que elas tomem conta dos recursos genéticos públicos, criando transgênicos venenosos e manipulando agentes comerciais que torcem pelas falsas teorias, sem base experimental alguma.Essas corporações impõem as suas idéias a força sobre nós, através de seus gigantes e influentes meios de propaganda e comunicações.O que um jornal nacional publicou nesta semana em seu editorial dizendo que a oposição aos transgênicos é motivada por razoes ideológica está totalmente errada.Jean Marc Weid explicou no mesmo dia o contrário, usando em seu argumento relatório da própria comissão da OMS (Organização Mundial da Saúde).Com base no artigo de Jean Marc, vemos como foram ignoradas pelo referido editorial as tentativas das multinacionais de esconder os resultados de pesquisa sobre o efeito mortal de transgênicos.Vale lembrar, também, os milhares de casos de alergia ao consumo de certas variedades de milho bt. Há, ainda, a contaminação do meio ambiente por ervas monstros e a extinção dos polinizadores.

Esse é o nosso Brasil!

O caso Madoff e o caso Dantas
Coluna Econômica - 13/03/2009
por Luis Nassif, em seu blog
Bernard Maddof deu um golpe de US$ 65 bilhões no mundo. Menos de um ano depois de descoberto está preso. Ontem houve uma audiência e ele saiu de lá algemado até uma cela pequena. O juiz distrital Denny Chin Madoff considerou que Madoff poderia fugir, já que é prevista uma pena de 150 anos para ele. Madoff foi ao Tribunal com um colete à prova de bala, tal a fúria do público que cercou o local - parte deles, vítima de seus golpes.Apesar de declaração de arrependimento, não divulgou o nome de familiares que participaram do golpe, nem de investidores que tinham recursos de origem duvidosa aplicados com ele.Maddof estava livre após pagar fiança de US$ 10 milhões. O juiz revogou a fiança.
***É longa a relação de crimes admitidos por Maddof: fraudes com títulos, lavagem de dinheiro, falso testemunho, traição a quase 5 mil clientes, perdas de US$ 65 bilhões.O esquema começou a ser praticado na década de 80. Consistia em pagar dividendos aos clientes mais antigos com os recursos depositados pelos novos clientes - o chamado “esquema Ponzi”, a popular corrente da felicidade que quebra quando o fundo deixa de crescer.Para manter a bicicleta rodando, Madoff fez de tudo, fraudou contas, extratos, rodada o dinheiro entre bancos de Nova York e Londres, para passar a impressão de prosperidade.Para girar uma roda de US$ 65 bilhões em depósitos, Maddof possuía apenas US $ 1 bilhão em ativos.***Enquanto tais fatos ocorriam nos Estados Unidos, no Brasil, um banqueiro preso depois de um flagrante de tentativa de suborno, foi libertado duas vezes pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). O uso de algemas na sua prisão indignou Gilmar Mendes; a gravação do suborno, não.Ao mesmo tempo, políticos, grandes jornais, redes de televisão entraram em uma corrente de criminalização dos funcionários da lei que desvendaram a trama do banco Opportunity. E pouco falam dos crimes de Daniel Dantas.***No fundo esta é a grande diferença entre os Estados Unidos e o Brasil. Economistas liberais, jornalistas conservadores, cansaram os ouvidos da população com as reclamações contra a falta de segurança jurídica no país. Que o capital, para entrar e ajudar o país a se desenvolver, deveria ter regras rígidas nas quais confiar.Uma dessas regras fundamentais - em qualquer economia capitalista moderna - é a capacidade das autoridades de levantar crimes e prender criminosos.Quando se chega nesse universo dos colarinhos-brancos, cessa o discurso neoliberal. O exemplo que vem do norte não mais é invocado. Prisão de banqueiros desonestos, levantamento de esquemas de lavagem de dinheiro, condenação rápida dos infratores e esse conjunto de medidas rápidas, permite o renascimento permanente da economia norte-americana, após cada grande crise.***Enquanto isto, o Brasil patina na impunidade, na complacência, nas armações - como a que junta a revista Veja com a CPI dos Grampos.No fundo, esse é o grande desafio para o Brasil aspirar a ser uma nação grande e justa: romper com esse pacto de banditismo que parece ter se consolidado nos quatro poderes do país.
***
Eu, Azenha, acrescento: testemunhei, nos Estados Unidos, o papel "educativo" desempenhado pelo FBI e pelo IRS, o Internal Revenue Service, o Leão americano. Vi de perto no caso de Leona Helmsley, dona de uma cadeia de hotéis que foi em cana por fraude fiscal. Isso lá atrás, nos anos 80. Não houve escândalo midiático, nem editoriais falando em "estado policial", nem CPI no Congresso dos Estados Unidos. Ela foi em cana, cumpriu a sentença e saiu. Assim como, depois, foram condenados e cumpriram pena políticos, policiais, empresários, financistas e muitos outros. Nos anos 80, no grande julgamento da máfia de Nova York, as autoridades acusaram o advogado de John Gotti, o chefão, de associação com o crime. Bruce Cutler foi afastado do caso pela Justiça, que concordou com a promotoria. Gotti foi condenado e morreu na cadeia. Desde então a Justiça americana estabeleceu com bastante clareza a distinção entre a defesa de um cliente e a associação com o crime. Um advogado promover o assassinato de caráter de um juiz ou de um policial federal usando a mídia, nos Estados Unidos, é crime punível com cadeia e a perda do direito de advogar.